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Dois anos depois - do outro lado do mundo

14 de Janeiro de 2013: na pacata cidade Algarvia de Loulé dá-se uma despdida, um até já, uma partida, o começo de uma jornada, um pequeno passo para homem e humanidade, o simples e insignificante começo de uma epopeia pessoal que nada trará de novo ao mundo, o recomeço do abraçar de um sonho, o de partir de casa para voltar pelo outro lado, testando sem dúvida ou razão se o mundo é mesmo redondo, procurando pelo meio averiguar se ainda se pode fazer tal viagem sem aviões sem se ser chamado de louco ou sem se ser magnata, procurando pelo caminho conhecer cada quilómetro, cada cultura, cada instante, cada diferença, cada dúvida, cada certeza que nasce na paralela viagem interior que certamente se fará, procurando ir sem pressa para num qualquer dia chegar, caminhando sem razão, apenas porque a vida assim o deseja.

14 de Janeiro de 2015: na pacata cidade Papua de Aitape acorda-se para mais um dia, dois anos volvidos, quase 40,000 quilómetros e 22 países depois, muitas estradas percorridas, muitas ruas calcorreadas, muitas ondas do mar navegadas, muitas mais por navegar no Pacífico diante de mim e no Atlântico que um dia virá.

Acorda-se como noutro qualquer dia, com o sono que perdura, com o duche frio que acorda, com o café que me dá vida, com um olhar ao mundo lá fora, tão diferente, tão novo, tão estranho, tão meu ainda assim, nesta Papua Nova Guiné aonde acabo de chegar, este quase antípoda geográfico de casa, antípoda e meio do meu mundo, em tudo diferente de mim, duro, difícil, de certa forma violento, de certa forma tão mais humano que o meu mundo, nos sorrisos que se trocam, no hábito perdido a oeste de tão só dizer olá a quem passa, de dar as boas vindas, de dar a mão por instantes ainda que o nome trocado se esqueça pouco depois.

Vagueio, como quem vejo, num passeio pela praia de mar violento, cujas ondas abissais me trouxeram há dois dias, num breve instante passado no mercado onde compro o que comer, enquanto olhos curiosos analisam cada passo que dou, num misto de espanto e desdém, numa curiosidade de aldeia que assenta bem a esta cidade, a este país talvez, que me assenta bem a mim, já que dócil e acolhedora e afável num dia em que celebro 2 anos de estrada, de longe de casa, de companhia de mim mesmo, de caminhos vencidos, de saudades por vencer, e que celebro num febril deambular pela antítese do meu mundo, encontrando conforto no mar que sempre me acompanha, mas também nas gigantescas árvores da praça onde a sombra corta o calor, onde um sem fim de gente descansa e conversa, onde eu também me sento e paro e pergunto sem querer 'o que faço eu aqui?', para em seguida me responder sem afogo 'onde mais iria estar?'.

Dois anos de viagem, 24 meses de caminho, 730 dias à volta do mundo para chegar tão só a meio, e ainda que cansado olho-me ao espelho tão só para confirmar a certeza desse brilho nos olhos de menino, que hoje como sempre só pensam no tanto que ainda há por percorrer.

Aitape, Papua Nova Guiné, 14 de Janeiro de 2015












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