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Fiji: meio mundo, ou a inevitabilidade de começar a regressar

Passaram quase dois meses desde que cheguei a Fiji, quarto destino da minha viagem pela Oceânia, quarta paragem da minha travessia do Pacífico, essa que comecei em Janeiro deste ano e que se foi fazendo larga, preguiçosa, ao ritmo daqui, “Pacific time”, sem qualquer espécie de pressa, condicionada pela impossibilidade desse barco que tarde ou cedo chegou para me levar ao destino seguinte, um passo de cada vez.

Passaram dois meses desde que parti de Vanuatu, trazido pelo vento e pela sorte de me cruzar com o capitão Jacob, que me abriu as portas do seu Mewa para me deixar continuar a sonhar com a volta ao mundo sem pressas nem aviões, viagem continuada nessa semana de travessia ao sabor das ondas, voando baixinho, tocando as ondas com os dedos enquanto milha a milha vencemos contra o vento a distância de mais uma etapa do caminho.

Cheguei cansado aqui, com o corpo doido depois de seis dias sem descanso no solavanco constante das ondas que não dão trégua. Cheguei cansado aqui, esgotado, vitima dos trópicos num dedo inflamado que me fez o caminho mais difícil e a chegada amarga. Cheguei cansado, com o brilho nos olhos de quem vence nova fronteira, mas que senti menos acolhedora pelo cansaço da doença que se fez infinita, num fim à vista que nunca mais chegou, que me fez cansado de estar aqui ainda que sem quase ter chegado.

Mas os dias passaram, o corpo reagiu, o descanso fez o seu papel, a vida foi aos poucos voltando a ter sabor, a ter-me a mim, a ser minha em cada dia que passa. O tempo passou nessa feia Lautoka, doce terra de açúcar que me amargou os dias de espera, mas onde abri de novo a porta do caminho que tenho a seguir. O tempo passou, e de novo feito ao mar rodeei meia ilha para num acaso descobrir na pequena Qoma a acolhedora simpatia do Pacífico e das tradições de Fiji. O tempo passou e trouxe-me à eternamente chuvosa Suva, capital por onde os dias passaram devagarinho na espera da hora de partir. O tempo passou, e na impaciência da espera fui até à verdejante Taveuni, onde toquei num mesmo dia o ontem e o amanhã, vítima da magia tonta que sentem os viajantes ao cruzar linhas, passado o meridiano que me deixou a 180 graus de distância de casa, e que me assegurou que estava mesmo na metade de trás do nosso redondo planeta.

Amanhã é dia de partir. É hora de abraçar de novo o meu destino, de viver essa inegável condição de ser Português e fazer-me ao mar, de novo ao sabor do vento como faziam esses Portugueses de antigamente enquanto espalhavam o nosso nome pelo mundo. Amanhã é dia de partir, de começar nova etapa dessa grande travessia que me separa do lado de lá do Pacífico, e que aos poucos me deixará mais perto do continente Americano, assim queira Neptuno. O mundo faz-se redondo, aos poucos, e ainda que sem dar por isso, e ainda que sem pressa, começa agora a ser o tempo de voltar.

A bordo do S.V. Mewa, Lami Town-Suva, Fiji, 31 de Agosto de 2015

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